A nova geração de sucessores no campo assume a gestão das propriedades com um grande desafio: atender a demanda mundial crescente de alimentos, tendo que produzir cada vez mais com menos recursos
Sabemos que a preservação do meio ambiente é responsabilidade de todos os cidadãos, e que o produtor rural já cumpre uma legislação rigorosa para que possa realizar as atividades no campo. O compromisso de conscientização deve ir além do rural, alcançando a cidade, e fomentar essa necessidade de preservação deve começar na base, com nossas crianças, para que às próximas gerações sejam mais conscientes e responsáveis.
Para entender melhor sobre os desafios da sustentabilidade no agronegócio, conversei com André Baby, Engenheiro Florestal, Mestre em Sustentabilidade e Ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso, que explica como algumas práticas adotadas hoje nas propriedades rurais impactam positivamente na transferência da gestão e para o futuro do planeta.
Perguntei a ele por que é tão importante para a nova geração entender sobre sustentabilidade e adotar novas práticas dentro da propriedade ainda durante o processo de transferência da gestão:
Segundo André, ser sustentável ou praticar a sustentabilidade é o caminho, não é mais um convite, e sim imperativo. Mas isso não pode tirar o sono da nova geração, pois o agro já tem isso muito claro no seu DNA, ou seja, a habilidade em lidar com os recursos naturais é uma realidade no setor. Porém, falamos tanto em sustentabilidade que parece algo dificílimo de alcançar ou de implementar.
Em termos simples, o que a nova geração ou até mesmo a sociedade em geral precisa entender é que há partes interessadas, principalmente quando o assunto é meio ambiente (direito difuso), alimentos e agropecuária.
Entender os impactos positivos e maximizá-los, entender os negativos e minimizá-los. O objetivo é incluir, preservar e produzir, fazer tudo isso sem comprometer nosso futuro, nossa sobrevivência. Assim, uma fazenda, um grupo, uma empresa serão sustentáveis quando estiverem gerando benefícios não só econômicos, mas também sociais e ambientais em toda sua cadeia produtiva.
A sustentabilidade quando bem entendida na sistemática do gerenciamento rural poderá contribuir para redução de custos, maximização de lucros, melhoria nas relações com colaboradores e stakeholders, melhoria da reputação da sua marca e sua identidade.
Não se trata de apenas uma exigência legal ou incumbência moral, mas sim numa melhoria de gestão que proporcionará melhoria na sua competitividade e na sua operação.
Entender essa situação é perceber não só para onde o mundo está caminhando, mas também a sinalização dos investidores, dos bancos e do mercado financeiro que estão buscando não só crescimento, mas também valor onde o recurso está sendo empregado, e para isso começaram a colocar dinheiro mais barato a disposição para os que estão se moldando para a sustentabilidade como uma estratégia de negócio. Os sucessores que incorporarem isso na sua missão gerencial irão se posicionar na vanguarda produtiva local, regional e mundial.
Sobre os maiores desafios dos sucessores do futuro referente às questões de preservação ambiental, ele ressalta que, neste momento, se dão em torno de entender que a questão ambiental está além das regras de compliance. Cada vez mais haverá gente interessada na origem do produto, no modelo de produção, nos insumos utilizados, isto é, na transparência do que chega até cada mesa.
Quem utiliza recurso natural no seu processo produtivo terá que lidar cada vez mais com monitoramento e rastreabilidade. O sucessor que entender que sustentabilidade está diretamente ligada a uma nova oportunidade de gestão levando seu negócio a uma eficiência produtiva, poderá não só nadar no “oceano azul”, mas também ganhar novos mercados, obter mais aceitação e consolidação da reputação do seu negócio. A simplicidade da colocação não quer, entretanto, expor que tudo é fácil de executar. As tarefas são desafiadoras e complexas, mas os jovens que tiverem criatividade e sabedoria irão romper modelos econômicos e gerenciais que estão estagnados acessando vindouras oportunidades para os nossos produtos rurais.
Além disso, destaca algumas situações: Segurança jurídica, entendimento sobre o funcionamento e o tempo de resposta da máquina pública e seus serviços, competitividade e exigências comerciais à nível nacional e internacional.
Ele afirma que citou apenas alguns desafios, mas a preservação ambiental não apareceu diretamente em nenhum, isto devido à questão ambiental ser um pilar transversal em qualquer operação produtiva do agronegócio. Ter essa estrutura inserida nos seus processos de negócios o colocará à frente das eventuais inseguranças normativas brasileiras e internacionais, impulsionará sua competitividade não só pela preservação e cumprimento das leis ambientais brasileiras, mas por lidar bem com os recursos naturais, favorecendo a comercialização e a comprovação sanitária da sua origem, por fim, proporcionando que sua marca e seu negócio prosperem junto com seus colaboradores e a sociedade que o cerca.
Portanto, não deve haver litígio e nem o menosprezo aos cuidados em preservação e qualidade ambiental do seu negócio, o sucessor que colocar isso na sua filosofia de trabalho, na sua cadeia de valor, com certeza irá largar na frente.
Falando sobre a construção e transmissão de valores, perguntei como a geração atual pode transmitir valores para as gerações futuras deixando também um legado pautado em questões sustentáveis:
A geração atual deixa um grande legado para as gerações futuras: é possível produzir e preservar, isso está comprovado. Sabemos fazer! Neste mesmo contexto, deixa o valor do agro brasileiro à disposição de toda sociedade e aos sucessores, ou seja, temos uma grande vocação que não se deve jogar fora. Como exemplo, superamos os “ciclos de culturas” no Brasil como café, cana-de-açúcar, borracha, para termos tudo acontecendo simultaneamente, isso é um legado em trabalho, técnica, ciência, políticas públicas. Empreenderam num país continental e agora começam a transmitir suas propriedades, seus negócios adiante com a ideia de que a verticalização e o aumento da eficiência são extremamente necessários.
O aumento da produtividade está diretamente ligado a sustentabilidade, ao modelo produtivo posto pelo século XXI, assim, é preciso não só cumprir os regramentos ambientais, mas também buscar a regularizar das suas áreas, investir em tecnologia, reduzir custos, aumentar lucratividade, envolver a comunidade no negócio para desenvolver recursos humanos cada vez mais capacitados.
É preciso entender que não se produz mais isolado e muito menos sem ser visto. Tudo isso é um legado pautado no caminho da sustentabilidade, eu acredito que estamos cada vez melhores no campo e tudo isso será um grande exemplo para cidade que até hoje padece com o saneamento básico.
E sobre bons exemplos, perguntei a ele que transita por muitas propriedades rurais, quais iniciativas pode compartilhar conosco que mais o deixaram satisfeito nestas questões e que poderiam servir de exemplo aos leitores:
André atesta que felizmente temos inúmeros bons exemplos: em Mato Grosso, Goiás, Bahia, São Paulo, Santa Catarina, Amazonas. Vários estados brasileiros possuem práticas e posturas produtivas voltadas para a sustentabilidade.
Ele cita a Liga do Araguaia (MT), composta por grupos de pecuaristas voltados para produção de carne sustentável; cita também os produtores de laranja na região de Tabapuã/SP, que possuem um sistema produtivo sustentável e inclusivo; as ações de reflorestamento fazendo contraponto juntamente com o manejo florestal ao desmatamento ilegal; fazenda de pecuária na região de Itambé/BA; fazenda na região de Santa Maria do Oeste/PR; fazenda com integração lavoura-pecuária-floresta (MS), fazenda em Carauari/AM, e outros tantos.
Ressalta que talvez esteja aí a importância do setor em se comunicar melhor e mostrar mais sobre esses feitos para contagiar todos aqueles que ainda estão céticos com a mudança e a oportunidade em inovar, podendo o agro brasileiro, com seus jovens sucessores, liderarem a grande revolução mundial em sustentabilidade produtiva: a chamada economia verde.
Por Mariely Biff